Luto: como é viver essa experiência?
- Por: Valéria Bezerra - Psicológa
- 21 de abr. de 2018
- 3 min de leitura

Perder alguém de quem gostamos representa um momento delicado e difícil na vida. Depois da perda fica o vazio, a tristeza, e as memórias dos momentos que estivemos com aquela pessoa. Estas lembranças são mais intensas nos primeiros dias e meses após a perda, talvez pela consciência real de que esses momentos não mais se repetirão.
Esse momento, apesar de difícil, cumpre uma função importante - a de ressignificar a perda. Para a psicanalista Vera Iaconeli “ o luto está para a psique, como a cicatrização está para o corpo; o tecido cicatricial nunca será igual, mas cumpre uma função”. Além da dor causada por essa “cicatrização” a morte de um ente querido nos trás o confronto com a nossa própria finitude.
Nos sentimos sem chão, vulneráveis. Quando pensamos em como continuar a vida sem a pessoa que perdemos, uma das coisas mais difíceis é encarar a rotina que tínhamos com ela. É preciso mudar tudo e ressignificar cada momento da vida sem o ente querido, é como se tivéssemos que aprender tudo de novo. Datas comemorativas tais como: natal, dia das mães, dia dos pais, réveillon, aniversário, etc, podem abalar as pessoas enlutadas, trazendo um desconforto que naturalmente precisa de tempo para ser elaborado e assimilado. Nossa vida vai seguir sem aquela pessoa, portanto, um novo significado precisa ser dado para estas datas.
Essa elaboração é de extrema importância para seguirmos em frente. A literatura enfatiza algumas fases desse processo de elaboração do luto, são elas: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na negação é como se o sujeito não aceitasse o que está acontecendo, não que falar sobre o assunto, tenta de diversas maneiras não entrar em contato com a realidade atual; a raiva está relacionada ao sentimento de revolta, surgem perguntas como: por que eu? Por que comigo? Geralmente esse sentimento se propaga em todas as direções e projeta-se no ambiente, muitas vezes sem razão plausível; a barganha é como se fosse uma negociação, geralmente com Deus e são mantidas em segredo; na depressão a pessoa fica mais isolada e se sente impotente frente a situação; finalmente na aceitação, o indivíduo já consegue enxergar a realidade e com isso lidar melhor com a morte do ente querido ( kübler- Ross,1992).
É importante lembrar que essas fases são vivenciadas de maneira única por cada pessoa e apesar de terem sido apresentadas numa ordem didática para fins de explicação, na vivência real do luto não seguem um roteiro definido.
Por fim, é importante compreendermos que o luto não é só uma vivência dolorosa, é também tempo de aprender e amadurecer como ser humano, que tem “pele frágil”, e por ser assim, pode ser machucada em alguns momentos. Contudo, em meio aos machucados, existe também a capacidade de regeneração, de superação, de amadurecimento e cicatrização.
Referências:
Brandão, M. Lenise. (2000). Psicologia Hospitalar: Uma abordagem holística e fenomenológico- existencial. Campinas: Pleno.
Freitas, J. L.; Luto e Fenomenologia: uma Proposta Compreensiva. (2013).Revista da Abordagem Gestáltica – Phenomenological Studies,19 (1 ),97-105.
Tavares, J. P; Andrade, C.C. (2009). A escuta fenomenológica comprometida pela ótica religiosa de uma gestalt-terapeuta. Rev. abordagem gestalt. [online].15 (1), 21-29.
Parkes, M.Colin. Luto Estudos sobre a perda na vida adulta. ed.3;v.56,summus.São Paulo, 1998.
Taverna, Gelson ; Souza, Waldir. O Luto e Suas Realidades Humanas diante da perda e do sofrimento .Caderno Teológico da PUCPR, Curitiba, v.2, n.2, p.38 - 55, 2014.
kübler- Ross,Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. Martins fontes,1992.
Agradecimentos: Gratidão a Equipe Aprimore Psicologia pelo suporte e contribuições.
Imagem extraída sobre o filme: “PS eu te amo”
Holly Kennedy (Hilary Swank) é casada com Gerry (Gerard Butler), um engraçado irlandês por quem é completamente apaixonada. Quando Gerry morre, a vida de Holly também acaba. Em profunda depressão, ela descobre com surpresa que o marido deixou diversas cartas que buscam guiá-la no caminho da recuperação.
(fonte:http://www.contioutra.com)
Valéria Bezerra, Psicóloga graduada pela Universidade Estadual da Paraíba(UEPB);Fez Aprimoramento e Especialização em Psicologia Hospitalar, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(FMUSP). Atualmente atende em consultório de Psicologia.
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